26 de julho de 2012

Sobre ser e estar... GORDO ou GORDA...

Se você é negro, gay, doente mental, careca, barbudo, tem pernas tortas, padece de alguma doença degenerativa, é pobre, é rico ou qualquer coisa parecida, você é gente!

Ah como deve ser bom SER GENTE!


Negro é pessoa. Gay é pessoa. Qualquer gente é pessoa, oras!


Qualquer gente? Não. GORDO não é gente e definitivamente, não são pessoas.

Se você está lendo esse post e você não faz parte clube dos obesos, gordinhos, gordos, baleias, você não conhece a lista de "adjetivos" a que os GORDOS são identificados. Vamos lá... chupeta de baleia, fofo/a, elefante ou "elefoa" ou ainda, "elefanta", gordinha, rolha de poço, porca-gorda (não basta ser gorda, tem que ser porca!), massa, brastemp, hipopótamo, merdona (mais uma vez, não basta ser merda, claro, o gordo ocupa mais espaço, tem que ser merdona), ilza carla, vovózona, mãe-do-gilbert-grape, batata ou batatona para as mulheres e batatão para os homens... e tem musiquinhas como: gorda-baleia-saco de areia. Ainda, quando tem um gordo feliz no pedaço, tem sempre uma invejosa pessoa que começa: um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais... e por aí vai.

Há um quase infinito número de outros nomes que uma pessoa legal denomina aos GORDOS.


- Nossa! Você tem um rosto tão lindo... (E nas reticências o gordo ouve: mas em compensação o resto...)

Por que gordo tem que ser feio, palhaço, espinafrado, desengonçado, etc? Ninguém se orgulha se estar gordo! Não existe um herói ou heroína gorda!

Não há passeatas para o orgulho gordo. O próprio gordo tem tanto medo de SER porque ESTÁ gordo, que não tem orgulho de existir nem para si.

Até as confecções descobriram que gordos jovens curtem estar na moda ou, ao menos, bem aparentável, e há um sem fim de lojas especializadas e, mesmo nas lojas como casas pernambucanas, renners e outras, há uma "ala" para os fats...claro... o gordo ou a gorda estão tão desesperados para se "enquadrarem" e mesmo para se sentirem bem e aumentar a autoestima, que não se importam em pagar o dobro ou o triplo do preço num pedaço de pano que o faça se sentir magro! É um sonho caber num jeans!

Você se lembra do Fat Family? Aquele grupo de irmãos que ERAM gordos? Fizeram cirurgia bariátrica, a conhecida "redução do estômago" e agora SÃO todos lindos! Eles se "enquadram" na sociedade por serem negros, mas NÃO por serem gordos então... ficaram magros!

EU, essa pessoa que aqui escreve, participo do grupo dos OBESOS. Vou deixar bem claro, antes que pensem que sou racista ou estou postando contra os GORDOS, meus "chapas"... na verdade, estou somente desabafando. O blog é meu e escrevo o que eu quiser. Se te agradar, continue lendo ou vá na cozinha beliscar um teco de alguma coisa deliciosamente calórica!

Antes, eu ERA menos gorda, mas ultimamente, andei me perdendo do controle e engordei mais um pouquinho...e tem GENTE que diz que estou "gordinha"!


Está aí a grande diferença: SER e ESTAR são duas coisas bem distintas!

E mais distinta ainda é a diferença de  gordos, por exemplo: sempre tem alguma figura na plateia do Jô Soares que grita "lindo", "gostoso", etc, e outras personalidades da TV que dizem que Jô é sexy...hmm... mas quantas mulheres GORDAS são assim chamadas?

E tem aquele médico que faz caridades lindas para pessoas "defeituosas", menos para GORDAS e, não satisfeito, ele acrescenta que a "mulher gorda não pode existir, que vai morrer, etc"...

O que está explícito é que homem gordo pode, mas mulher gorda é a treva! Merece morrer queimada viva, essa desgraçada, numa pira funerária imensa, rodeada por ninfas esbeltas, bem afeiçoadas de narizes, seios murchos ou com silicone e bundas magrelas, ao som de alguma música tensa e intensa, um Dvorak enlouquecido, tocada por músicos magros e tesos por assassinar essa espécie fadada à morte - conforme diz o doctor ray... a gorda maldita, a Mama Cass Eliot do ano dois mil... matem as GORDAS! Comam-nas enroladas em folhas de alface!
...
A Gorda, espécie que a sociedade que esconder em bariátricas, em cirurgias plásticas, em roupas que se parecem lonas de circo estendidas no maracanã... a Gorda, é somente uma mulher. Mulher. Você sabe o que é uma MULHER? Aquela pessoa do sexo feminino, a guerreira ou a mocinha que quer ser salva da torre guardada pelo dragão da obesidade... mas para a GORDA, não existe um príncipe encantado e nem um cavalo que aguente seu peso... a Gorda está fadada a estar solitária dentro de toda a derme que a abraça.

Seria tão louvável se existisse um "Fat Day" regido por Baco, uma avenida invadida por gordos e gordas, todos nus, felizes, cantando, dançando, transando, bebendo, fumando, comendo, ou até mesmo chorando, mas que saíssem às ruas e invadissem todos os espaços com seus suores, suas massas balançantes, suas carnes soltas, sem se preocuparem com o que os outros vão pensar, falar...  Mas é só mais um devaneio...

Um devaneio de uma GORDA que pensou que fosse gente, que pensou que fosse mulher, que pensou que pintar, estudar enlouquecidamente, que pesquisar coisas e mais coisas, que conhecer o mundo, que trabalhar num ritmo alucinado, que se encantar de dores, amores, músicas, tintas, viagens, que servir, ajudar, que tudo isso fosse amenizar a beleza e a tristeza de existir num corpo gordo...


Estar gorda é um momento do corpo. SER gorda é um momento de alma... Eu SOU e ESTOU gorda... meu corpo é só uma embalagem gasto na viagem... uma mala surrada carregada de armas que podem disparar num sopro. Ah, a minha alma... bem... esta é indefinível, imensurável e impalpável...


Bem, agora peço licença... Está na sala um homem a me esperar, impaciente. Dvorak escreveu uma música só para mim e Rostropovich subiu das trevas para me ver delirando na pira funerária... Senhoras e senhores, vai começar o ritual da pira para uma gorda... por favor, preciso me despir e me pintar para dançar nas labaredas.

Boa noite.

Ândrea Mamontow