2 de março de 2008

Canção de ninar

É grande o mundo?

- É grande. Do tamanho do medo.


É longo o tempo?

- É longo. Longo como o esquecimento.


É profundo o mar?

- Pergunte ao náufrago.


( O Tentador sorri, me acaricia os cabelos e me diz que durma).


Rosário Castellanos



Destino

Matamos lo que amamos. Lo demás no ha estado vivo nunca. Ninguno está tan cerca. A ningún otro hiere um olvido, una ausência, a veces menos.
Matamos lo que amamos. I que cese esta asfixia de respirar com un pulmón ajeno!
El aire no es bastante para los dos. Y no basta la tierra para los cuerpos juntos y la ración de la esperanza es poça y el dolor no se puede compartir.
El hombre es anima de soledades, ciervo con uma flecha en el ijar que huye y se desangra.
Ah, pero el ódio, su fijeza insomne de pupilas de vidrio; su actitud que es la vez reposo y amenaza.
El ciervo va a beber y en el agua aparece el reflejo del tigre.
El ciervo bebe el agua y la imagen. Se vuelve – antes que lo devoren – (cómplice, fascinado) igual a su enemigo.
Damos la vida sólo a lo que odiamos
Rosário Castellanos


Mulher de vestido azul

Desprezo... ele a desprezou pela segunda vez... ignorou a presença dela diante de tantos fatos, de tantas promessas, de tantas coisas, que nem se deu conta que ela estava ali, preparada, querendo tantas coisas que ele não poderia lhe dar. Ela tentou... tentou chamar a atenção dele, mas não adiantou. Ele não a enxergou... mas fez pior... todos eram vistos, reparados, comentados, retribuídos... todos eram amados! Exceto ela. Ela roeu as unhas vermelhas, avermelhando ainda mais as pontas dos dedos com seu batom vermelho. Um sentimento novo ganhava espaço e ela o alimentava, deixava essa coisa crescendo, crescendo... e não sabia lidar com isso. Ela chorou... dos olhos claros e arregalados saltaram as águas miúdas, tímidas, mas tensas, verdadeiras, magoadas, feridas. Um borrão escuro de maquiagem enfeiou os olhos lindos dela. Tremores lhe desceram as pernas fracas de desespero. Ela quis correr mas não pôde. Quis andar, sair dali, mas não conseguia. Muitos já a olhavam, mas ela estava quieta dentro do vestido azul, aparentemente quieta, catatônica é mais adequado. Todos já reparavam na mulher de vestido azul deixada no canto, nesse estado nada invejável... Ele dançava pelas rodinhas, esbanjava simpatia e risos torpes, sórdidos. E num instante, a mulher do vestido azul sorriu... mirou os olhos para a saída e ensaiou um passo... a boca franziu, a testa molhada perto dos cabelos. Ela foi até uns passos de si própria, voltou os olhos pela última vez para ele. Não, ele não a enxergou nesse último instante. Ela foi sumindo pelo foco... diminuindo até o seu tamanho natural até não ser mais vista por ninguém.
a.S.