31 de maio de 2008

Palavrões...

Millor Fernandes

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

“Pra caralho”, por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que “pra caralho”? “Pra caralho” tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra carlho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do “Pra caralho”, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso “Nem fudendo”. O “Nem fudendo” é irretorquível, e liquida o assunto. Telibera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro para ir surfar no litoral? Não perca tempo, nem paciência. Solte logo um definitivo “Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FUDENDO!.” O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o “porra nenhuma!” atendeu tão plenamente as situações onde nosso Ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um “é PhD porra nenhuma!”, ou “ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!”. O “porra nenhuma”, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um “Puta-que-pariu!”,ou seu correlato “Puta-que-o-pariu!”. Falados assim, cadencialmente, sílaba por sílaba, diante de uma notícia irritante, qualquer “puta-que-o-pariu!” te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o tempo devido e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso “vai tomar no Cu!”? E sua maravilhosa e reforçadora derivação “vai tomar no olho do seu Cu!” Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: “Chega! Vai tomar no olho do seu Cu!”. Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoe a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: “Fudeu!” (os puristas dizem “fodeu”). E sua derivação mais avassaladora ainda: “Fudeu de vez!”. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar : O que você fala? “Fudeu de vez!”.

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de “foda-se!” que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do “foda-se!” O “foda-se” aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor, reorganiza as coisas. Me liberta. “Não quer sair comigo? Então foda-se!”. “Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!”. O direito ao “foda-se!” deveria estar assegurado na constituição Federal.

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se…




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27 de maio de 2008

Lavou as mãos pra sair à rua...



Adiantou-se exatos cinco minutos. Lavou as mãos - cruzou pela porta - elevador - corredor - calçada - rua. Andou até o local combinado. Quando chegou ainda teve tempo de acender o cigarro, olhar para os lados e esperar que aqueles eternos minutos não o deixassem ansioso.

Tudo agitado na cidade: transeuntes enlouquecidos em seus pensamentos... mendigos enlouquecidos em seus devaneios... ele não enlouquecendo por ansiedade - o que já era incomum.
Mas ali permaneceu mais tempo. Sentia que o mundo corria num ritmo diferente do seu... os olhos tentavam alcançar alguém que não se adiantara cinco minutos. Terminou o cigarro.

Um cigarro ocupa uma média de cinco minutos pra ser fumado.


Cheirou nas mãos não mais o cheiro de antes. Esfregou-as na calça como se quisesse se livrar daquele cheiro amargo da nicotina. Não resolveu muito, mas ele sentiu-se aliviado.


Subia, vez em quando, um vento de baixo pra cima, que vinha do metrô.

As pessoas diminuiam de volume assim como a luz do dia diminuia a intensidade. Talvez, pensou, se tivesse levado umas flores elas estariam mais mortas agora. Olhou pelo ombro e notou que havia poeira demais sobre si. Já era o momento de acender mais um.


Já era momento de acender mais outro.

Chegou o momento de acender...


Chegou o momento em que todos os cigarros... a noite estava com cheiro de tango sem parceria, um tango que se dança só e a platéia não aplaude.
As mãos não tinham perfume de gardênia e ele não mais as esfregou nas calças.

Seguiu a rua pela calçada - corredor - elevador - cruzou pela porta - lavou as mãos.

Não acendeu mais cigarro.

A.Russa

26 de maio de 2008

A verdade...



Pessoa que sou, dedicada às Artes há longa data, hoje, somente hoje, me deparei com o valor esmagador da verdade e me lembrei, desesperadamente de Nietzsche: "temos a Arte para não morrer de verdade ".

Não é necessário dispender muita energia pensando em torno dessa idéia; a Arte supera a morte; a verdade destrói a beleza, a verdade nos destrói... essas são algumas das mais de cem idéias surgidas num debate entre amigos.

Me apeguei à idéia de que a verdade nos destrói. Às vezes sobrevivemos, nos arrastamos pelos dias como um amputado numa batalha... ora nos invadimos de um leviano entusiasmo, um positivismo desvairado, ora a verdade torna a ocupar seu lugarzinho de honra: nossas atenções.

O próprio Nietzsche nos oferece outro pensamento: "Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas". Penso (e nunca desisto!) que isso me conforta... a verdade não é absoluta e os fatos não são eternos (e meu amigo doutorando em Matemática - não me recordo a área -, afirma que, então, a Arte não existe!... bem, isso é tema pra outra conversa... resolveremos futuramente, ok?).

Fatos são verdades. Verdades são fatos. Então temos uma igualdade proporcional. Ahhh... eu amaria e viveria eternamente confortável se pudesse retornar à gênese e alterar certos fatos. Não me refiro à gênese do Mundo, mas a mim mesma, o sujeito responsável por mim. Quantas vezes criamos fatos dos quais nos arrependemos? Por quê sempre nos lembramos muito mais dos fatos infelizes que dos felizes? Por quê temos medo de ser felizes? Por quê amamos? Por quê temos o hábito de tomar o outro para si, afogá-lo com nossos desesperos? Por quê abandonamos sonhos?...

Pra mim, esses questionamentos são fatos. Fatos são verdades. Como planejar, então, fatos verdadeiros somente felizes? Nietzsche responde. Nitzsche, responde?

Ele não me respondeu e eu não me respondi. E creio que você não responda.

Como é complexo existir, ser feliz (ou pensar que somos). Mas, justamente pela complexidade, encontrei uma respostinha que me trouxe à borda pra puxar fôlego: a própria vida.

É... a vida. Pensei, no meio disso tudo, o quanto vale viver sem tantas respostas, repleta de tantas questões, medos, desafetos, orgulhos indecentes, vaidades arrogantes, falsos capitéis adornando medíocres cabeças, cruéis atos impensados mas mesmo assim praticados, criminosos subversivos morando na casa ao lado, terremotos, maremotos, motos-mortos, pragas, doenças... estamos cercados de forças negativas e destrutivas, mas sempre tem uma florzinha brotando. Temos sempre que embelezar o nosso cotidiano. Colher flores é uma defesa. Penso (e jamais desisto!) que colher flores é a Arte nossa de cada dia... pintar quadros é a minha salvação. Pedalar horas pode ser a tua salvação. Um filme, uma noitada, um sexo bem feito, um jantar, até uma pizza pode ser a Arte de qualquer um de nós... nossa tábua de salvação.

Sabe, eu gosto muito de Nietzsche, mas gosto muito mais de mim. Quanto ao valor da verdade, não me importo. Os fatos? Não tem problema... logo virão outros. Por enquanto, à mim basta viver: despedaçada, dolorida, gritando ou calando... porém, florida, preenchida de Vida e Arte.

Viver supera qualquer fato, destrói qualquer verdade. Viver, por si só é já uma maravilha... pra que querer ser feliz pelos fatos? Viver. Vida.

"Torna-te aquilo que és", Friedrich Nietzsche

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Por A.Russa

Namastê!

25 de maio de 2008

a mínima:

"saberemos cada vez menos o que é um ser humano", J. Saramago


"o vaso sanitário une as pessoas", autor desconhecido (?) ou coletivo inconsciente(?)

21 de maio de 2008

Reflexão - Charles Chaplin



Já perdoei erros quase imperdoáveis... tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso... já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.
Já abracei pra proteger, já dei risada quando não podia, já fiz amigos eternos, já amei e fui amado, mas também já fui rejeitado... já fui amado e não soube amar.
Já gritei e pulei de tanta felicidade... já vivi de amor e fiz juras eternas, mas "quebrei a cara" muitas vezes.
Já chorei ouvindo música e vendo fotos.
Já liguei só pra escutar uma voz.
Já me apaixonei por um sorriso... já pensei que fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)!
Mas sobrevivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida... e você também não deveria passar.
Viva!

Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito pra ser insignificante.

Um grande abraço...

18 de maio de 2008

Bicho de Sete Cabeças...


Geraldo Azevedo

Composição: Geraldo Azevedo - Zé Ramalho - Renato Rocha

Não dá pé não tem pé nem cabeça
Não tem ninguém que mereça
Não tem coração que esqueça

Não tem jeito mesmo
Não tem dó no peito
Não tem nem talvez
Ter feito o que você me fez

Desapareça cresça e desapareça

Não tem dó no peito
Não tem jeito
Não tem coração que esqueça
Não tem ninguém que mereça
Não tem pé não tem cabeça
Não dá pé não é direito
Não foi nada eu não fiz nada disso
E você fez um bicho de 7 cabeças
Bicho de 7 cabeças

Não dá pé não tem pé nem cabeça
Não tem ninguém que mereça
Não tem coração que esqueça
Não tem jeito mesmo
Não tem dó no peito
Não tem nem talvez
Ter feito o que você me fez
Desapareça
Bicho de sete cabeças, bicho de sete cabeças

Sylvia Ji...

















...sensualidade, graça, extrema beleza, equilíbrio, sedução, mistificação, força.

Pela PAZ... para a PAZ...



SEMENTES DE PAZ

As sementes de paz representam as doze orações pela paz feitas em Assis, Itália, no dia da Oração pela Paz Mundial durante o Ano Internacional da Paz das Nações Unidas, 1986. As orações foram levadas aos Estados Unidos e deixadas aos cuidados das crianças da Life Experience School. A distribuição das Sementes de Paz é um projeto para servir o mundo. As orações pertencem à humanidade.

“Como a abelha que colhe o mel de diversas flores, a pessoa sábia aceita a essência das diversas escrituras e vê somente o bem em todas as religiões.”

Mahatma Gandhi


1. Oração Hindu pela Paz

Ó Deus, leva-nos do irreal para o real. Ó Deus, leva-nos da escuridão para a luz. Ó Deus, leva-nos da morte para a imortalidade. Shanti, Shanti, Shanti a todos. Ó Senhor, Deus Todo Poderoso, que haja paz nas regiões celestiais. Que haja paz sobre a Terra. Que as águas sejam apacentadoras. Que as ervas sejam nutritivas, e que as árvores e plantas tragam paz a todos. Que todos os seres benéficos tragam-nos a paz. Que a Lei dos Vedas propague a paz por todo o mundo. Que todas as coisas sejam fonte de paz para nós. E que a Vossa paz possa trazer a paz a todos, e a mim também.

2. Oração Budista pela Paz

Que todos os seres, de todos os lugares, afligidos por sofrimentos do corpo e da mente sejam logo libertados de suas enfermidades. Que os temerosos deixem de ter medo e os agrilhoados sejam libertos. Que o impotente encontre força, e que os povos desejem a amizade uns dos outros. Que aqueles que se encontram no ermo sem caminhos e amedrontados - as crianças, os velhos e os desprotegidos – sejam guiados por entes celestiais benéficos, e que rapidamente atinjam a condição de Buda.

3. Oração Jainista pela Paz

A Paz e o Amor Universal são a essência do Evangelho pregado por todos os Seres Iluminados. O Senhor disse que a equanimidade é o Dharma. Perdôo a todas as criaturas e que todas as criaturas me perdoem. Por todos tenho amizade e por nenhuma criatura inimizade. Saiba que a violência é a causa raiz de todas as misérias do mundo. A violência é de fato o nó que aprisiona. “Não ofenda nenhum ser vivo”. Este é o caminho eterno, perene e inalterável da vida espiritual. Por mais poderosa que seja uma arma, ela sempre pode ser sobrepujada por outra; mas nenhuma arma pode ser superior à não-violência e ao amor.

4. Oração Maometana pela Paz

Em nome de Allah, o benéfico, o misericordioso. Graças ao Senhor do Universo que nos criou e distribuiu em tribos e nações. Que possamos nos conhecer, sem nos desprezarmos uns aos outros. Se o inimigo se inclina para a paz, incline-se você também para a paz, e confia em Deus, pois o Senhor é aquele que ouve e conhece todas as coisas. E entre os servos de Deus, Cheios de Graça são aqueles que andam sobre a Terra em humildade, e quando nos dirigimos a eles dizemos “PAZ”.

5. Oração Sikh pela Paz

“Deus nos julga segundo nossas ações, não de acordo com o traje que nos cobre: a verdade está acima de tudo, mas ainda mais alto está o viver em verdade. Saibam que atingimos a Deus quando amamos, e a única vitória que perdura é aquela que não deixa nenhum derrotado.”

6. Oração Bahai’ pela Paz

Seja generoso na prosperidade e grato na adversidade. Seja justo ao julgar e comedido ao falar. Seja uma luz para aqueles que caminham na escuridão, e um lar para o forasteiro. Seja os olhos para o cego e um guia para os errantes. Seja um sopro de vida para o corpo da humanidade, orvalho para o solo do coração dos homens, e seja a fruta da árvore da humildade.

7. Oração Shintoísta pela Paz

Embora as pessoas que vivem do outro lado do oceano que nos rodeia, eu creio, sejam todas nossos irmãos e irmãs, porque há sempre tribulação neste mundo? Porque os ventos e as ondas se levantam no oceano que nos circunda? Desejo de todo coração que o vento logo leve embora todas as nuvens que pairam sobre os picos das montanhas.

8. Oração dos Nativos Africanos pela Paz

Deus Todo Poderoso, Grande Polegar que ata todos os nós, Trovão que ruge e parte as grandes árvores; Senhor que tudo vê lá de cima, que vê até as pegadas do antílope nas rochas aqui na Terra, Vós sois aquele que não hesita em responder a nosso chamado. Vós sois a pedra angular da Paz.

9. Oração dos Nativos Americanos pela Paz

Ó Grande Espírito de nossos Ancestrais, elevo meu cachimbo a Ti. Aos teus mensageiros, os quatro ventos, e à Mãe Terra, que alimenta seus filhos. Dê-nos a sabedoria para ensinar nossos filhos a amarem, respeitarem e serem gentis uns com os outros, para que possam crescer com idéias de paz. Que possamos aprender a partilhar as coisas boas que nos ofereces aqui na Terra.

10. Oração Parse pela Paz

Oramos a Deus para erradicar toda a miséria do mundo: que a compreensão triunfe sobre a ignorância, que a generosidade triunfe sobre a indiferença, que a confiança triunfe sobre o desprezo, e que a verdade triunfe sobre a falsidade.

11. Oração Judaica pela Paz

Vamos subir a montanha do Senhor, para que possamos trilhar os caminhos do Mais Alto. Vamos forjar arados de nossas espadas, e ganchos de poda com nossas lanças. Uma nação não levantará a espada contra outra nação – nem aprenderão a guerra novamente. E ninguém mais sentirá medo, pois isto falou o Senhor das Hostes.

12. Oração Cristã pela Paz

Benditos são os que fazem a paz, pois eles serão chamados Filhos de Deus. Pois eu lhes digo: ouçam e amem os seus inimigos, façam o bem aos que te odeiam, abençoem aqueles que te maldizem, orem pelos que te humilham. Aos que lhes batem no rosto, ofereçam a outra face, e aos que lhes tiram as vestes, ofereçam também a capa. Dêem aos que pedem, e aos que tomam seus bens, não os peça de volta. E façam aos outros aquilo que quiserem que os outros façam a vocês.

http://radiomundial.cidadeinternet.com.br/viva/item3417.shtml




Francisco de Assis nasceu na cidade de Assis, Úmbria, Itália, em 1182. Pertencia à burguesia, e dessa condição tirava todos os proveitos. Como seu pai, tentou o comércio, mas logo abandonou a idéia por não ter muito jeito para isso. Sonhou, então, com as glórias militares, procurando desta maneira alcançar o status que sua condição exigia. Contudo, em 1206 para espanto de todos, Francisco de Assis abandonou tudo, andando errante e maltrapilho, numa verdadeira afronta e protesto contra sua sociedade burguesa. Entregou-se totalmente a um estilo de vida fundado na pobreza, na simiplicidade de vida, no amor total a todas as criaturas. Com alguns amigos deu início ao que seria a Ordem dos Frades Menores ou Franciscanos. Com Santa Clara, sua dileta amiga, fundou a Ordem das Damas Pobres ou Clarissas. Em 1221, sob a inspiração de seu estilo de vida nasceu a Ordem Terceira para os leigos consagrados. O pobrezinho de Assis, como era chamado, foi uma criatura de paz e de bem, terno e amoroso. Amava os animais, as plantas e toda a natureza. Poeta, cantava o Sol, a Lua e as Estrelas. Sua alegria, sua simplicidade, sua ternura lhe granjearam estima e simpatia tais que fizeram dele um dos santos mais populares dos nossos dias.




ORAÇÃO DA PAZ

Senhor! Fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.

Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é vivendo plenamente* que se vive para a vida eterna.

* eu não creio que é morrendo que se vive eternamente, mas vivendo plenamente cada uma de nossas existências. Creio que HOJE, AGORA, somos um pedacinho do grande TODO que realmente compomos. Viver tem seu exuberante, mágico e maravilhoso sentido sendo vivido... Me perguntaram, certa vez, qual era o sentido da vida... respondi: mas tem que ter um sentido?? VIVER já não é um sentido? Tem alguma coisa que conhecemos que seja mais maravilhoso que viver? ... bem, Francisco vai me entender a pequena mas grande mudança na oração.






Namastê






17 de maio de 2008

Fogueira...


Por que queimar minha fogueira
E destruir a companheira
Por que sangrar o meu amor assim
Não penses ter a vida inteira
Para esconder teu coração

Mais breve que o tempo passa
Vem de galope o meu perdão

Por que temer a minha fêmea
Se a possuis como ninguém

A cada bem, do mal, do amor em mim
Não penses ter a vida inteira
Para roubar meu coração
Cada vez é a primeira
Do teu também serás ladrão


Deixa eu cantar
Aquela velha estória, AMOR
Deixa eu penar
A liberdade está na dor

Eu vivo a vida a vida inteira
A descobrir o que é o amor
Leve pulsar do sol a me queimar
Não penso ter a vida inteira
Para guiar meu coração

Sei que a vida é passageira
Mas o amor que eu tenho não

Quero ofertar
A minha outra face à dor
Deixa eu sonhar
Com a tua outra face, AMOR

Não penso ter a vida inteira
Para guiar meu coração
Sei que a vida é passageira
Mas o amor que eu tenho não

Quero ofertar
A minha outra face à dor
Deixa eu sonhar
Com a tua outra face, AMOR...

15 de maio de 2008

Francesca Woodman...
























O CORPO COMO LABORATÓRIO DE SI...


Algumas imagens chegam até nós provocando uma sensação de estranhamento. Pela força indescritível de sua presença, vão cada vez mais atraindo, arrastando e seduzindo-nos como um canto de sereias. Não há miragens, o inferno é ver. Essa viagem nos causa um quase mal-estar, mas sua força, seu modo de nos arrancar os olhos, consiste nesse quase. A imagem mantém-se em nós tão somente por ser esse fora indescritível, pelos lances que vimos, mas não conseguimos apreender, como um vulto. Assim encontramos as fotografias de Francesca Woodman, figura curiosa que, como suas imagens, seduziu sem deixar pistas. Woodman entrou para a fotografia usando o corpo como experiência, como laboratório de si. Fez uma viagem sem volta ao limiar do corpo, como se percorresse seus limites para encontrar o inevitável: seu devir-outro-fotográfico, sua imagem-vulto: trata-se de uma quase assinatura como se no meio do tumulto animal da vida, uma outra imagem, ou sombra, se intercalasse, não como pólo gerador daquelas imagens, como autor da obra inscrita mas, pelo contrário, como o que deixa apenas um rastro secreto, como aquele que ao movimento, ao que é animado, confundindo-se com a pedra, tornada para nós tumular – aquela que guarda o segredo do nascimento da arte. Não é, portanto, uma alma ou subjetividade criadora, mas um corpo deitado, na dor, no sono ou na morte. É a dispersão do corpo, do rosto e do próprio olhar, de um corpo que jaz enterrado na fronteira entre a ausência, a aparição, o desaparecimento. De um corpo que sempre reflete à sombra de uma outra imagem, uma imagem falha; que quando mirado, se dispersa entre as coisas do mundo. Nessa esfera não há representação do rosto nem, portanto, do olhar. Seu rosto nada revela. A verdade de sua aparência é um enigma, um exílio. Sua substância acontece, fora de si, no espaço que há entre a força que o move e o mundo que o acolhe. Sua imagem não é a revelação de uma realidade, mas de uma sombra, de algo que é inteiramente vivo e no entanto não orgânico. Há nas fotografias de Francesca algo que nos força a pensar. Este algo nos arremessa de encontro a realidades em que muitas vozes se atravessam, por vezes ouvimos Artaud: o pulsar o corpo sem órgãos; por vezes Bataille: a febre e a intensidade; mas por vezes, entre a sombra e a claridade o canto silencioso de Rilke: a sombra da morte. Mas isso, esse turbilhão de coisas e vozes, nas fotografias de Francesca Woodman, só pode ser apreendido a partir de uma perspectiva da sensação, em vôos que o olhar mergulha no diverso e nele se perde, sob a égide da paixão, da dor ou da morte. Em sua primeira característica, e sob qualquer tonalidade, essas imagens só podem ser sentidas. Não é uma estrutura, mas uma abertura, a fissura pela qual os olhares se atravessam. Ela é também, de certo modo, o incomunicável; segundo o caso da arte, o incomunicável, passível no entanto de comunicação. Nas suas fotos, cada imagem parece perdida de uma atmosfera identitária, em cada foto é sempre outra, como se seu corpo estivesse mergulhado em um contínuo jogo de simulacros onde a origem, a verdade, a matriz, há muito se apagou. Não há realidades, mas tudo é o que é: um corpo estendido no deserto de uma paisagem. O deserto é a fotografia, mas o corpo parece atravessado de sensações, de febre, de morticidade. Tudo parece vivo e morto. como se a vida fosse o fora da morte, mas a morte o seu dentro, sua afirmação inevitável.

Francesca transcorre pela linha que cruza de uma realidade a outra. Nas suas fotos, as linhas estão sempre se encontrando, fabricando dobras, redobras, criando um aberto de possibilidades com a força de uma máquina desejante, que da sua intensidade-corpo, passa para uma máquina-desejo, que, no seu funcionamento, engendrada uma corrente de fluxos, cortes, vultos, peles. Nas suas imagens, há sempre uma pulsação de intensidades operando no seio de um acontecimento: série binária é não linear vazando por todas as direções. O desejo não cessa de efetuar acoplamentos de fluxos, pensamentos, volúpia, sobra, pele. O corpo de Francesca parece amarrado ao seu limite, mas dele escorre uma leveza indescritível. A sua imagem revela-se como uma quase epifania, mas nunca da ordem de um sagrado. Sua imagem atravessa a fotografia como o Monge Negro rasga a retina do jovem Kovrin, conduzindo-o ao seu limite, mas a atração também. Kovrim é atraído a ir, e vai atravessando todos os riscos que implicam esse ir: Kovrin reteve a respiração, seu coração parou de bater e o mágico, extático transporte que há muito tempo esquecera, voltou a palpitar em seu coração. O susto é inevitável. Assim foi Francesca na sua experiência com a fotografia, mas sobretudo, na sua viagem à superfície do corpo. Lembremos Valery: o mais profundo é a pele. Essa foi a sua viagem, ao profundo da superfície, às entranhas da derme. Assim vamos nós ao encontro das suas imagens, numa experiência da sensação e do ver. O susto arderá através das retinas.

Francesca Woodman nasceu em Devem, Colorado, em 1958. Começou a fotografar aos 13 anos. Seu foco de experiências era o próprio corpo. Em Janeiro de 1981 publica o livro “Disordered Interior Geometries”. Uma sema depois, atravessa a janela do seu apartamento.

14 de maio de 2008

Ódio?


Ódio?
Florbela Espanca

Ódio por ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto...

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo!

Ah! nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo d’outra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não... não vale a pena...






o artista contemporâneo mais caro do mundo...


O artista chinês Cai Guo-Qiang acabou de bater todos os recordes mundiais da arte contemporânia chinesa, com a sua inovadora técnica de fazer arte, e pintar quadros.

Cai Guo-Qiang pinta os seus quadros com pólvora, que é queimada em cima da tela deixando os rastos do fogo e as marcas características da fuligem da pólvora queimada. Depois, com tinta dá os retoques finais para finalizar a obra, obtendo deste modo resultados verdadeiramente surpreendentes.

No passado dia 25 de Novembro, este artista viu um conjunto de 14 destes seus quadros, serem vendidos a um comprador anónimo pelo preço de 9,5 Milhões de Dólares (cerca de 6,44 Milhões de Euros), num leilão em Hong Kong. De vários países e continentes surgiram compradores interessados nas obras deste artista, o que tornou este leilão muito competitivo.


qual é o quadro mais caro do mundo e seu $$$...

1. Portrait of Adele Bloch-Bauer, de Gustav Klimt ($135.000.000)
2. Garçon à la Pipe, de Pablo Picasso ($104.100.000)
3. Dora Maar with Cat, de Pablo Picasso ($95.200.000)
4. Portrait of Dr. Gachet, de Vincent van Gogh ($82.500.000)
5. Bal Au Moulin de la Galette, de Pierre-Auguste Renoir ($78.000.000)
6. Massacre of the Innocents, de Peter Paul Rubens ($76.700.000)
7. Portrait de l'Artiste sans Barbe, de Vincent van Gogh ($71.500.000)
8. Rideau, Cruchon et Compotier, de Paul Cézanne ($60.500.000)
9. Femme aux Bras Croisés, de Pablo Picasso ($55.000.000)
10. Irises, de Vincent Van Gogh ($53.900.000)

Não confirmado! Rumores movimentam o mundo da arte quanto ao topo da lista, pelo menos temporariamente, se encontra o nº 5, datado de 1948, de Jackson Pollock ($140.000.000?)... seria o preço cada vez mais elevado para uma pintura, superando os $ 135 milhões pagos pelo Retrato de Adele Block Bauer, de Gustav Klimt???

Será??

Obra de Lucien Freud é a mais cara de um artista vivo...



Retrata uma mulher nua, obesa, com as suas formas exageradas, a dormir num sofá. Chama-se Benefits Supervisor Sleeping, data de 1995 e foi vendido por 33,6 milhões de dólares, o equivalente a 21,7 milhões de euros, e é até agora a obra mais cara de sempre por um artista vivo. O recorde foi batido na Christie's de Nova Iorque e é apenas mais um no currículo do britânico Lucien Freud. Até agora o recorde pertencia ao artista norte-americano Jeff Koons, e à obra Hanging Heart que no passado mês de Novembro foi vendida por 23 milhões de dólares, ou seja, 14, 8 milhões de euros. Isso aconteceu hoje, 14/05/2008.

Considerado um exemplar do realismo grotesco e distorcido de Freud, ou o chamado realismo pós moderno - no qual se pode inserir também parte da obra da portuguesa Paula Rego -, o quadro recordista retrata Sue Tilley, agora com 51 anos. Ms Tilley, mais conhecida por "Big Sue", foi apresentada a Lucien Freud pelo artista australiano Leigh Bowery. Ela posou para Freud durante quatro anos, no início da década de noventa e contou à BBC a estranheza que então sentiu ao ter de passar tantas horas nua. "Nas primeiras duas sessões estava um pouco embaraçada, mas depois acabei por me habituar. É um pouco estranho pensar que uma pintura de mim possa valer tanto dinheiro", acrescentou ainda, esclarecendo que não "é necessário estar parada o tempo todo. São dois ou três dias por semana e há paragens pelo meio." E por cada dia que posava, Big Sue recebia 20 libras (pouco mais de 25 euros). Nada, comparado com o preço atual do quadro que retrata as suas formas.

O recorde anterior de um quadro de Lucien Freud, de 85 anos, foi conseguido em novembro de 1992. A obra em questão chamava-se IB and her Husband e foi vendido por 19,3 milhões de dólares, cerca de 12,5 milhões de euros.

Neto de Sigmund Freud, o chamado pai da psicanálise, Lucien Freud nasceu em Berlim em 1922 e é um dos mais consagrados pintores da atualidade. Durante a II Guerra Mundial instalou-se com a família em Londres e naturalizou-se inglês. Pintor figurativo, talvez o mais emblemático a pintar a figura humana, depois de ter experimentado o surrealismo nos seus primeiros anos, Lucien Freud está representado nos grandes museus de todo o mundo. Até agora, a sua obra mais famosa era talvez o quadro After Cezzane, que actualmente pertence ao espólio da National Gallery, em Sidney, na Austrália.

Este Benefits Supervisor Sleeping ameaça destroná-lo na fama e tornou ainda mais respeitado o nome de Lucien Freud.

EU AMO...



quem ama cuida... cuida com carinho, com medo de que algo ruim aconteça à parte amada... protege. Quem ama perdoa, briga, desentende, morre de saudades, se arrepende, perdoa novamente, esquece-se... briga de novo, se arrepende, perdoa outra vez... sucessivamente, quem ama perdoa, cuida, ama em todos os momentos. Quando está longe quer estar junto e, às vezes, estando junto, queria estar longe... mas ama. Quem ama sofre sabendo que a outra parte sofre, chora. Quem ama se preocupa... não quer dividir a parte amada, tem ciúmes, é possessivo: se o mundo se acabasse estando eu nos braços da parte amada... não teria um fim melhor... eu amo desesperadamente e amo compulsivamente e idolatro o homem que amo... amor...

Eu amo... a outra parte não.



13 de maio de 2008

Os silêncios...













Não entendo os silêncios
que tu fazes
nem aquilo que espreitas
só comigo

Se escondes a imagem
e a palavra
e adivinhas aquilo
que não digo

Se te calas
eu oiço e eu invento
Se tu foges
eu sei não te persigo

Estendo-te as mãos
dou-te a minha alma
e continuo a querer
ficar contigo

(Maria Teresa Horta)


Sem ti...





Não quero viver
sem ti
mais nenhum tempo

Nem sequer um segundo
do teu sono

Encostar-me toda a ti eu não invento
Tu és a minha vida o tempo todo


(Maria Teresa Horta)

... 3



"Saberemos cada vez menos o que é um ser humano."


José Saramago

12 de maio de 2008

Um presente para Carlos E.A.



a.ban.do.nar
DEIXAR
DESISTIR
RENUNCIAR
DESPREZAR
DESCUIDAR
ENTREGAR-SE
INSUPORTÁVEL
MORTE



CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM

Para Luís Alberto
(e para Carlos E.A., por mim)


A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem
passando.

E uma nuvem passando
ensina-nos mais coisas que cem pássaros
mil livros um milhão de homens.

A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem.
Passando.

(Antonio Brasileiro)

Eu recomendo: Emily Dickinson

245

Tive uma jóia nos meus dedos —
E adormeci —
Quente era o dia, tédio os ventos —
"É minha", eu disse —

Acordo — e os meus honestos dedos
(Foi-se a Gema) censuro —
Uma saudade de Ametista
É o que eu possuo —

Tradução: Augusto de Campos





1212

Uma palavra morre
Quando é dita —
Dir-se-ia —
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia.

Tradução: Aíla de Oliveira Gomes








249

Noites Loucas — Noites Loucas!
Estivesse eu contigo
Noites Loucas seriam
Nosso luxuoso abrigo!

Para Coração em porto —
Ventos — são coisas fúteis —
Bússolas — dispensáveis —
Portulanos — inúteis!

Navegando em pleno Éden —
Ah, o Mar!
Quem dera — esta Noite — em Ti
Ancorar!

Tradução: Paulo Henriques Britto










Dentre todas as Almas já criadas

Dentre todas as Almas já criadas -
Uma - foi minha escolha -
Quando Alma e Essência - se esvaírem -
E a Mentira - se for -

Quando o que é - e o que já foi - ao lado -
Intrínsecos - ficarem -
E o Drama efêmero do corpo -
Como Areia - escoar -

Quando as Fidalgas Faces se mostrarem -
E a Neblina - fundir-se -
Eis - entre as lápides de Barro -
O Átomo que eu quis!




Emily Dickinson nasceu em 10 de dezembro de 1830, na pequena cidade de Amherst, perto de Boston, no estado de Massachusetts, uma das regiões de raízes mais puritanas e conservadoras dos Estados Unidos, e morreu no mesmo local em 15 de maio de 1886. Tendo vivido e produzido à margem dos círculos literários de seu tempo, solteira por convicção e auto-exilada dentro de casa por mais de vinte anos, Emily Dickinson não chegou a publicar os seus versos, por não se submeter aos rígidos padrões de discrição e singeleza que se esperava então de uma mulher. Sua voz era uma voz estranha em meio às tímidas dicções poéticas da época, e por essa razão ela teve de encarar em vida a rejeição de seu labor poético. Ao arrumar o quarto de Emily depois que ela morreu, a sua irmã Lavinia encontrou uma gaveta cheia de papéis em desordem. Eram cadernos e folhas soltas com uma grande quantidade de poemas inéditos. Disposta a divulgar a obra da irmã, Lavinia entrou em contato com um medíocre crítico literário, Thomas Higginson, que durante trinta anos renegou todos os versos que Emily lhe submetera, e uma obscura escritora, Mabel Todd, que por cinco anos havia freqüentado a casa da poeta sem nunca chegar sequer a vê-la. Dessa improvável união de forças surgiu a publicação póstuma de alguns de seus poemas, seguida em pouco tempo de diversas outras edições, em vista da excepcional acolhida que tiveram. Em 1955, o crítico e biógrafo Thomas H. Johnson reuniu numa edição definitiva todos os seus 1.775 poemas. Daí em diante a obra de Emily Dickinson passou a ser reverenciada por uma crescente legião de críticos e leitores exigentes. Sua escrita poética, ambígua, irônica, fragmentada, aberta a várias possibilidades de interpretação, antecipa, sob muitos aspectos, os movimentos modernistas que se sucederiam depois de sua morte. Essa instigante poesia, nascida na solidão e no anonimato mas impregnada dos mais profundos valores humanos, dá hoje a Emily Dickinson um merecido e imorredouro lugar no cânon literário universal.

10 de maio de 2008

alive...

















Hoje foi um dia insólito.
Lembrei-me de amigas que tiveram seus lares abandonados por seus maridos. A casa entristecida pela morte de filho ou de um parente e pensei: filho não é parente. Começa semente da gente mesmo. Depois se torna uma extensão nossa, da própria carne tornar-se alma de mim mesma.
Ter um filho é ouvir em terceira pessoa a primeira pessoa. É um indivíduo ser plural.
Mais adiante das horas, pensei... pensei em como é mesquinho um homem não poder ser mãe. Mas ao mesmo tempo, que glórias somos nós em sermos mães, criadoras, geniais genitoras, gênese, genética... Seres que dão de si, a vida toda para que o outro ser seja tudo aquilo que você puder fazer de melhor por ele. Se ele fracassar, você não fracassará: buscará forças e o fortalecerá. Se ele rir, você rirá com ele. Se chorar, quererá chorar por ele, poupar-lhe sofrimentos... Ser mãe é ser Deus.
Há mães que ceifam vidas.
Eu não.


Um dia especial. Um presente pra quem é mãe e pra quem virá a ser. Salut!

4 de maio de 2008

Banho-maria, de Roseana Murray













Amor não deve ser mantido
em banho-maria
pois seus poderes
de luz e encantamento
se esvaem neste lento cozinhar
amor pede fogo alto
grossas chamas
sol intenso
e muita pimenta
amor pede tempero forte
pede tudo em exagero
mel de se lambuzar