26 de maio de 2008

A verdade...



Pessoa que sou, dedicada às Artes há longa data, hoje, somente hoje, me deparei com o valor esmagador da verdade e me lembrei, desesperadamente de Nietzsche: "temos a Arte para não morrer de verdade ".

Não é necessário dispender muita energia pensando em torno dessa idéia; a Arte supera a morte; a verdade destrói a beleza, a verdade nos destrói... essas são algumas das mais de cem idéias surgidas num debate entre amigos.

Me apeguei à idéia de que a verdade nos destrói. Às vezes sobrevivemos, nos arrastamos pelos dias como um amputado numa batalha... ora nos invadimos de um leviano entusiasmo, um positivismo desvairado, ora a verdade torna a ocupar seu lugarzinho de honra: nossas atenções.

O próprio Nietzsche nos oferece outro pensamento: "Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas". Penso (e nunca desisto!) que isso me conforta... a verdade não é absoluta e os fatos não são eternos (e meu amigo doutorando em Matemática - não me recordo a área -, afirma que, então, a Arte não existe!... bem, isso é tema pra outra conversa... resolveremos futuramente, ok?).

Fatos são verdades. Verdades são fatos. Então temos uma igualdade proporcional. Ahhh... eu amaria e viveria eternamente confortável se pudesse retornar à gênese e alterar certos fatos. Não me refiro à gênese do Mundo, mas a mim mesma, o sujeito responsável por mim. Quantas vezes criamos fatos dos quais nos arrependemos? Por quê sempre nos lembramos muito mais dos fatos infelizes que dos felizes? Por quê temos medo de ser felizes? Por quê amamos? Por quê temos o hábito de tomar o outro para si, afogá-lo com nossos desesperos? Por quê abandonamos sonhos?...

Pra mim, esses questionamentos são fatos. Fatos são verdades. Como planejar, então, fatos verdadeiros somente felizes? Nietzsche responde. Nitzsche, responde?

Ele não me respondeu e eu não me respondi. E creio que você não responda.

Como é complexo existir, ser feliz (ou pensar que somos). Mas, justamente pela complexidade, encontrei uma respostinha que me trouxe à borda pra puxar fôlego: a própria vida.

É... a vida. Pensei, no meio disso tudo, o quanto vale viver sem tantas respostas, repleta de tantas questões, medos, desafetos, orgulhos indecentes, vaidades arrogantes, falsos capitéis adornando medíocres cabeças, cruéis atos impensados mas mesmo assim praticados, criminosos subversivos morando na casa ao lado, terremotos, maremotos, motos-mortos, pragas, doenças... estamos cercados de forças negativas e destrutivas, mas sempre tem uma florzinha brotando. Temos sempre que embelezar o nosso cotidiano. Colher flores é uma defesa. Penso (e jamais desisto!) que colher flores é a Arte nossa de cada dia... pintar quadros é a minha salvação. Pedalar horas pode ser a tua salvação. Um filme, uma noitada, um sexo bem feito, um jantar, até uma pizza pode ser a Arte de qualquer um de nós... nossa tábua de salvação.

Sabe, eu gosto muito de Nietzsche, mas gosto muito mais de mim. Quanto ao valor da verdade, não me importo. Os fatos? Não tem problema... logo virão outros. Por enquanto, à mim basta viver: despedaçada, dolorida, gritando ou calando... porém, florida, preenchida de Vida e Arte.

Viver supera qualquer fato, destrói qualquer verdade. Viver, por si só é já uma maravilha... pra que querer ser feliz pelos fatos? Viver. Vida.

"Torna-te aquilo que és", Friedrich Nietzsche

_________________________________________________________________________
Por A.Russa

Namastê!

Nenhum comentário: