27 de maio de 2008

Lavou as mãos pra sair à rua...



Adiantou-se exatos cinco minutos. Lavou as mãos - cruzou pela porta - elevador - corredor - calçada - rua. Andou até o local combinado. Quando chegou ainda teve tempo de acender o cigarro, olhar para os lados e esperar que aqueles eternos minutos não o deixassem ansioso.

Tudo agitado na cidade: transeuntes enlouquecidos em seus pensamentos... mendigos enlouquecidos em seus devaneios... ele não enlouquecendo por ansiedade - o que já era incomum.
Mas ali permaneceu mais tempo. Sentia que o mundo corria num ritmo diferente do seu... os olhos tentavam alcançar alguém que não se adiantara cinco minutos. Terminou o cigarro.

Um cigarro ocupa uma média de cinco minutos pra ser fumado.


Cheirou nas mãos não mais o cheiro de antes. Esfregou-as na calça como se quisesse se livrar daquele cheiro amargo da nicotina. Não resolveu muito, mas ele sentiu-se aliviado.


Subia, vez em quando, um vento de baixo pra cima, que vinha do metrô.

As pessoas diminuiam de volume assim como a luz do dia diminuia a intensidade. Talvez, pensou, se tivesse levado umas flores elas estariam mais mortas agora. Olhou pelo ombro e notou que havia poeira demais sobre si. Já era o momento de acender mais um.


Já era momento de acender mais outro.

Chegou o momento de acender...


Chegou o momento em que todos os cigarros... a noite estava com cheiro de tango sem parceria, um tango que se dança só e a platéia não aplaude.
As mãos não tinham perfume de gardênia e ele não mais as esfregou nas calças.

Seguiu a rua pela calçada - corredor - elevador - cruzou pela porta - lavou as mãos.

Não acendeu mais cigarro.

A.Russa

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