
Adiantou-se exatos cinco minutos. Lavou as mãos - cruzou pela porta - elevador - corredor - calçada - rua. Andou até o local combinado. Quando chegou ainda teve tempo de acender o cigarro, olhar para os lados e esperar que aqueles eternos minutos não o deixassem ansioso.
Tudo agitado na cidade: transeuntes enlouquecidos em seus pensamentos... mendigos enlouquecidos em seus devaneios... ele não enlouquecendo por ansiedade - o que já era incomum. Mas ali permaneceu mais tempo. Sentia que o mundo corria num ritmo diferente do seu... os olhos tentavam alcançar alguém que não se adiantara cinco minutos. Terminou o cigarro.
Um cigarro ocupa uma média de cinco minutos pra ser fumado.
Cheirou nas mãos não mais o cheiro de antes. Esfregou-as na calça como se quisesse se livrar daquele cheiro amargo da nicotina. Não resolveu muito, mas ele sentiu-se aliviado.
Subia, vez em quando, um vento de baixo pra cima, que vinha do metrô.
As pessoas diminuiam de volume assim como a luz do dia diminuia a intensidade. Talvez, pensou, se tivesse levado umas flores elas estariam mais mortas agora. Olhou pelo ombro e notou que havia poeira demais sobre si. Já era o momento de acender mais um.
Já era momento de acender mais outro.
Chegou o momento de acender...
Chegou o momento em que todos os cigarros... a noite estava com cheiro de tango sem parceria, um tango que se dança só e a platéia não aplaude. As mãos não tinham perfume de gardênia e ele não mais as esfregou nas calças.
Seguiu a rua pela calçada - corredor - elevador - cruzou pela porta - lavou as mãos.
Não acendeu mais cigarro.
A.Russa
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