16 de julho de 2008

As palavras no tempo...



A estátua da noite tem dois filhos nos braços. A morte e o sonho. Um dorme profundamente, o outro finge dormir.

Aquele que dorme aceitou seu destino, nada teme;

Aquele que simula o sono combate a brevidade da vida construindo uma moral que o perpetue;

O filho que dorme não pode voltar atrás;

Quem finge dormir perde a noite reconstruindo os gestos do dia anterior;

O do sono profundo não tem remorsos;

O filho acordado cultiva a má consciência;

Quem dorme é nada;

No coração de quem finge jorra a esperança;

Quem dorme abraça o dogma;

Quem finge dormir é metáfora viva;

Perfeição e imperfeição separam a morte da vida, nessa ordem.

Onde iremos parar, nós, vivos, com as nossas “crises de entusiasmo”?

Onde iremos parar, nós, mortos no ápice da nossa parcimônia?

Entre nós estão os vivos, e, entre nós, os mortos. Para distinguir um dos outros basta colocar a chama de uma vela na boca dos cadáveres ou, perto dos lábios de quem finge, uma boca em chamas.


“Vida e morte” GARGANI, Giorgio A. In: As palavras no tempo. PEPE Dunia & De MAIS, Domenico. Rio de Janeiro: José Olympo, 2003.

Nenhum comentário: