7 de dezembro de 2010

Ophélia...



Lição sobre a água

Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com exceções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.




...




Quem é Ophélia?



Ophelia, é uma personagem secundária da obra Hamlet, de William Shakespeare,  que nos proporciona uma complexidade das realidades humanas e é uma aventura no significar.  Mais Dionísico que apolíneo, flerta com a cultura pagã e deixa a interpretação de todo o conteúdo simbólico para o leitor.  Escrita entre 1585 e 1601,  a  peça é a mais famosa e com uma qualidade de atemporalidade que nos permite transportá-la para os dias de hoje e analisá-la. 
Hamlet é um príncipe atormentado pelo desejo de vingar a morte do pai.  Ophelia é utilizada como ferramenta política por ele, pois ela é filha de Polônio, suspeito de ser o assassino. Hamlet a deseja mas não confia nela, pois transfere a desconfiança despertada por sua mãe, Rainha Gertrudes, que não espera o tempo de luto e se casa com o pai de Ophelia. Esta deseja Hamlet mas não consegue saber o que realmente quer, já que é manipulada pelo pai e pelo irmão. Ao ver que Hamlet enlouquece, sente-se culpada e enlouquece também. A cena de sua morte, descrita por Gertrudes, é uma das mais belas passagens da literatura:


Onde um salgueiro cresce sobre o arroio, 
E espelha as flores cor de cinza na água; 
Ali, com suas líricas grinaldas 
De urtigas, margaridas e rinúnculos,
E as longas flores de purpúrea cor 
A que os pastores dão um nome obsceno 
E as virgens chamam de "dedos de defunto", 
Subindo aos galhos para pendurar 
Essas coroas vegetais nos ramos, 
Pérfido, um galho se partiu de súbito, 
Fazendo-a despencar-se e às suas flores 
Dentro do riacho. 
Suas longas vestes 
Se abriram, flutuando sobre as águas; 
Como sereia assim ficou, cantando 
Velhas canções, apenas uns segundos, 
Inconsciente da própria desventura, 
Ou como um ser nascido e acostumado 
Nesse elemento; mas durou bem pouco 
Até que as suas vestes encharcadas 
A levassem, envolta em melodias, 
A sufocar no lodo. 

(Hamlet, Shakespeare-p.145)

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